[ARTIGO] Work-life balance e o profissional contábil
- MB Jornalismo
- 19 de ago. de 2020
- 5 min de leitura

Vida pessoal e profissional são os dois principais pilares na vida de qualquer indivíduo. Enquanto se tornam interdependentes, também se faz necessário buscar o equilíbrio entre ambos. Sabendo disso, e também da dificuldade que muitos profissionais encontram ao evitar a fadiga e buscar a estabilidade entre as áreas, muito se debate sobre a importância e as ferramentas para se alcançar a relação saudável entre o profissional e o pessoal.
Nisso, teve início o estudo sobre “Work-life Balance”, que vem se destacando ao longo dos debates acerca do equilibro entre a rotina administrativa enquanto operação profissional e o ambiente privado do trabalhador. O estudo atua no que diz respeito ao conflito gerado pelo cruzamento. A vida pessoal em relação ao contraste com a vida profissional e os impactos causados. Nesse texto, será debatido não só a questão dos dois âmbitos do indivíduo, como também a relação que produzem sobre o profissional de contabilidade.
Introduzindo, em poucas palavras, Work-life Balance, é um estudo que diz respeito as práticas e ferramentas utilizadas para desenvolver a consciência sadia e balanceada entre o trabalho e a vida pessoal. Pautado na noção de que os âmbitos do indivíduo devem ser complementares e, ao mesmo tempo, interdependentes. Ou seja, a boa realização do trabalho, da produtividade, requer o equilíbrio da vida pessoal e sua estabilidade. Enquanto, a vida pessoal, depende diretamente da relação profissional do indivíduo com seu ambiente administrativo.
Sobre a relação daqueles que não sabem equilibrar a vida pessoal e profissional, o autor Renato Bernhoeft, em seu livro Administração do tempo, um recurso para melhorar a qualidade de vida pessoal e profissional, desenvolve o assunto acerca de uma teoria sobre os homens com identidade organizacional, onde esse cruzamento ele nomeia como “contaminação de papel”. Afirmando que:
A própria vida pessoal dos homens com forte identidade organizacional torna-se muito sofrida por aquilo que podemos chamar de contaminação dos papéis e pela forte dependência que ele desenvolve em relação à organização.
Um estudo médico feito na Inglaterra mostrou que o excessivo envolvimento e esforço realizado no trabalho tem limitações. A partir de certo limite, existe um decréscimo na produtividade e qualidade de vida do ser humano. A forte identificação com o papel organizacional apresenta problemas psicossomáticos.
O bem-estar ao qual se refere estudo é diretamente proporcional ao rendimento obtido no trabalho. Uma das consequências mais comuns dos esforços além do limite das possibilidades é a fadiga. (BERNHOEFT, 2009, p.64-65)
Entretanto, ainda que a vida profissional e pessoal se correlacione, é preciso equilibrar os respectivos espaços, sem que um venha a danificar o processo do outro. Segundo o estudo, os dois precisam estar alinhados, sem jamais se entrelaçarem ao ponto de gerar desgaste ou falta de produtividade. O gerenciamento entre deve ser posto em prática em qualquer âmbito empresarial. Porém, devido à especificidade, o foco será posto em torno do profissional contábil.
No âmbito nacional, durante um longo período, a contabilidade esteve relacionada ao conceito de atender somente aos aspectos tributários. Porém, ao longo das pesquisas e debates sobre a profissão, foi comprovado que tal visão sobre o profissional contábil podia ser designada como um equívoco, já que o trabalho exercido estava muito além de serviços mecânicos, direcionados aos fins fiscais, como se acreditava anteriormente. A contabilidade está diretamente ligada à tomada de decisões, ao raciocínio e o planejamento, seguindo também os pontos de destaques da lógica e do pensamento humano. Ou seja, existe o fator variável e psicológico, que afeta diretamente qualquer tomada de decisão.
Sobre os valores da contabilidade e a sua necessidade de atualização durante os tempos, as autoras Aline de Jesus Reis e Selma Leal da Silva, no artigo A história da contabilidade no Brasil, ampliam a questão com a seguinte citação:
O profissional da área contábil no século XXI deve ter um conhecimento vasto e qualificado. Diante das novas necessidades do mercado, que dispõe de muitas informações em reduzido espaço de tempo, e devido às inovações tecnológicas, é exigido do profissional ética, agilidade diante dos problemas, auxílio na tomada de decisões, além de manter-se atualizado continuamente. (REIS; SILVA, 2008, p.11)
Com o crescimento das possibilidades oferecidas dentro do segmento e a proporção universal que vem desenvolvendo, a contabilidade, principalmente em tempos de crise, vem a se tornar uma engrenagem indispensável para a ferramenta que constitui a sociedade como um todo. Sendo assim, qualidades interpessoais, consciência, controle, criatividade, adaptação e equilíbrio entre os setores individuais se tornam pontos fortes e diferenciais entre os profissionais da área.
Já em 2011, a revista eletrônica norte americana Health, já se preocupava com o tema, listando que a profissão do contador está entre as dez carreiras com mais riscos de depressão, devido ao estresse. Os pontos que podem levar o profissional ao declínio emocional estão diretamente ligados ao fator do nível de cuidado e meticulosidade das operações feitas, onde uma única vírgula pode trazer prejuízos imensuráveis para uma empresa. Por isso, a tensão já se torna um fator presente na rotina do profissional. Qualquer consequência externa que desestabilize o foco pode acarretar em danos irreparáveis.
Outro ponto a ser levantado e discutido, está também no acumulo de demandas realizados pelos profissionais e escritórios contábeis. Assim, na tentativa de se crescer no meio, uma parcela dos contadores tende a assumir responsabilidades acima do que são capazes de atuar com eficiência. Mesmo sabendo ser preciso dedicar-se atenciosamente a qualquer cliente, justamente por se envolver em setores tão “delicados”. Ainda no âmbito do envolvimento, como o trabalho contábil se apoia através da evolução progressiva a partir do acompanhamento à empresa parceira, é possível destacar o fator de que muitos profissionais costumam a não saber separar os limites entre sua função e o desempenho geral da empresa. Por isso, tendem a não estabelecer horários específicos, levando sempre as demandas para casa e trabalhando nos momentos em que se deveria estar repousando, justamente por não conseguirem se desligar da operação.
Estar à disposição é uma qualidade importante para o profissional contábil, mas o excesso vem sempre a ser prejudicial, causando assim a conhecida fadiga, levando em conta todos os outros fatores que já cercam a profissão.
Neste ponto, torna-se fundamental o debate e a utilização de ferramentas que possam constituir e solidificar o melhor gerenciamento das decisões e o controle por parte do profissional contábil. Visto que, a profissão exerce altas responsabilidades frente ao serviço prestado à sociedade.
Autor: João Mendes
Supervisão: Marsal Brito
Referências:
BERNHOEFT, Renato. Administração do tempo, um recurso para melhorar a qualidade de vida pessoal e profissional. São Paulo: Editora Nobel, 2009. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=HI0BDy9y5h8C&oi=fnd&pg=PA11&dq=vida+profissional+e+pessoal&ots=7wMwa6S6aH&sig=8wscbS6VaL2ZT_Tq7iG8TEVIv8#v=onepage&q=vida%20profissional%20e%20pessoal&f=false Acesso em: 6 jul, 2020.
REIS, Aline de Jesus;SILVA, Selma Leal da. A história da contabilidade no Brasil. Rev.Unifacs Sepa, Salvador,2008. Disponível em: https://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/download/299/247#:~:text=Brasil.&text=A%20hist%C3%B3ria%20da%20Contabilidade%20no,Alf%C3%A2ndegas%20que%20surgiram%20em%201530. Acesso em 6 jul, 2020.
WORTH, Tammy. 10 carrers with high rates of depression, 2011. Disponível em: https://www.health.com/condition/depression/10careerswithhighratesofdepression?slide=4d268015-4bf5-48ad-af1d-98c32e401249#4d268015-4bf5-48ad-af1d-98c32e401249 Acesso em 6 jul, 2020.
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